Como gerenciar projetos que envolvem demissão
Os projetos nas organizações têm diferentes finalidades: melhorar a qualidade de seus produtos e serviços, reduzir os tempos nos processos de negócios, aumentar a receita, reduzir os custos, melhorar o fluxo de caixa, fidelizar seus clientes, modernizar seu processo produtivo, aumentar a produtividade, melhorar a imagem institucional, aumentar o market share; porém, estes objetivos invariavelmente têm um denominador comum: a competitividade da organização no segmento em que atua.
Além de objetivos distintos, os projetos variam quanto à sua complexidade, duração, investimentos, recursos humanos envolvidos e resultados esperados, que podem ser tangíveis e/ou intangíveis, Se por um lado, há projetos ligados à melhoria da qualidade de vida de uma população, e que trazem realização profissional e pessoal para o gerente e equipe de projeto, por outro, há projetos que têm por meta a redução de custos, que em geral, busca otimizações internas, negociações com fornecedores e envolve a diminuição do quadro de pessoal. Estes projetos, além das dificuldades inerentes de gerenciamento do escopo, prazos e qualidade, trazem consigo uma carga emocional desgastante e estressante para seu gerente.
Não é tarefa fácil para o gerente de projetos saber que seu sucesso é “cortar cabeças” de colegas de trabalho, que muitas vezes são pessoas produtivas, responsáveis e fiéis à organização. Acrescido a positivos aspectos profissionais, há outros atributos pessoais que entristecem o cenário, uma vez que a demissão atinge incondicionalmente: chefes de família, pessoas que pagam com dificuldades financeiras seus próprios estudos, pessoas com dependentes doentes no lar, profissionais com idade avançada e com prováveis dificuldades de recolocação no mercado de trabalho, entre outros.
O gerente de projetos pode (e deve) refletir sobre a situação, sobre a proposta do projeto, os resultados esperados e a atuação que se espera dele. Precisa ser pragmático e suportar a “pressão” que sofrerá na organização, sobretudo, dos níveis hierárquicos que serão afetados pelo projeto. O gerente deve evitar enfrentar a situação com postura defensiva, de contestação e até de boicote ao projeto, pois pode tomar a decisão de abdicar de gerenciar o projeto, por questões emocionais ou de ordem pessoal a qualquer tempo. Entretanto, caso opte por abdicar do projeto, é aconselhável que o faça logo, evitando seu desgaste pessoal e até profissional, pois se no decorrer no projeto vacilar, titubear ou entrar em conflito existencial, poderá causar danos à equipe do projeto e ao projeto em si, além de prejuízos à organização e a si mesmo, alguns dos quais, irreparáveis.
Cabe ao gerente de projeto compartilhar as metas do projeto com sua equipe, através de um processo de comunicação claro, objetivo, franco e transparente. A palavra “mentira” deve ser expurgada de seu dicionário, e a expressão “critério justo” deve ser a tônica destes árduos projetos, ou seja, os critérios de escolha para redução de pessoal devem ter como base única e exclusiva o fator “desempenho profissional”, que é incontestável em qualquer cultura organizacional. Pode parecer frio e racional, porém, a imparcialidade traz serenidade para a consciência pessoal, respeito da equipe e amadurecimento profissional de todos os envolvidos.
Evidentemente que, sempre que possível, alguns cuidados devem ser tomados neste processo, como evitar o “conta-gotas”, ou seja, demissões paulatinas e freqüentes, criando um clima de insegurança e pânico na organização no decorrer do tempo. Preferencialmente, o processo de redução deve ocorrer de forma concentrada e com intenso plano de comunicação explicando as razões da adequação, a fim de buscar o restabelecimento de um clima positivo em toda a organização em curto prazo.
Coragem, determinação e persistência são atributos necessários ao gerente do projeto, pois na execução deste tipo de projeto, receberá muitas críticas, sobretudo de algumas pessoas malintencionadas ou míopes que tentam atribuir a responsabilidade pela redução de pessoal como sendo uma definição pessoal e arbitrária de sua parte, inconseqüente, fria e calculista. É muito difícil gerenciar projetos com estas características, porém, não se pode esquecer, que em alguns casos, a competitividade (e até a sobrevivência!) de uma organização pode depender do sucesso de um conjunto de projetos que tem por objetivo a redução de custos. Não se pretende rotular estes gerentes de projetos de “heróis”, também não seria justo chamá-los de “desumanos”, quem sabe, não seria mais criterioso dizer somente que são profissionais responsáveis e comprometidos com os resultados da organização.