Café paulista com sorriso baiano
Café paulista com sorriso baiano
Jovem, vivia em uma pequena e pacata cidade na chapada diamantina.
Tarefas muitas, empregos poucos, e a vida seguia, um dia após o outro, sem grandes mudanças.
Depois de um dia de labuta, gostava de sentar com os pais na pequena varanda, e ali, enquanto os corpos estirados se livravam do cansaço, entre um assunto e outro, falados sem pressa, admiravam o céu. Cada jóia, cada ponto brilhante, colocados ali por Deus, como de propósito, Sabedor que haveria diariamente um ponto de encontro e contemplação.
Ah, as cidades mais ao sul, as capitais, cheias de gente, modas e oportunidades!
Cada imagem na televisão, nas revistas, nas conversas dos amigos fazia com que perdesse o sono, imaginando meios e maneiras de poder conhecer aquele pedaço de mundo.
Assim, a jovem não perdia a oportunidade de guardar cada centavo que pudesse e enviar cartas aos parentes e amigos para, quem sabe um dia, ir ver de perto e desfrutar um pouco da abundância, tão comentada nas correspondências que recebia das pessoas e parentes que lá viviam.
Quem procura sempre encontra e quando já pensava em desistir, ali estava. Uma oportunidade de trabalho, um local para morar, junto aos seus, que haviam há alguns anos deixado também aquela terra, da qual diziam morrer de saudades, mas que dificilmente voltariam.
Assustada e preocupada fez as malas, incentivada pelos pais: – Vai minha filha, isto não é vida para você. Esta terra é linda, mas viver dela é sofrido! Sempre haverá tempo para visitas e quem sabe um dia para a volta. Com juízo, vá sim. Faça seu destino. Não a criamos para nós, mas para o mundo!
E lá se foi ela, horas de ônibus, que mais aumentavam seu medo e expectativa, sem saber o que realmente encontraria.
Recebida pelos parentes, que há muito não a viam, foi abraçada com ternura e demoradamente, como se pudessem daquela forma se livrar rapidamente da doída saudade.
No dia seguinte seria domingo, fariam um almoço chamando amigos para que se enturmasse e pudesse se sentir em casa.
Agitada com tudo aquilo e querendo começar a nova vida logo, nem aceitou os conselhos para descansar. Dois dias depois já se apresentava para trabalhar. O patrão, amigo da família, alegre, gentil e brincalhão, a deixava à vontade para que, com calma, pudesse aprender com as outras colegas.
Ela ouvia tudo, quase não falava, e muito tímida não gostava de atender o balcão na lanchonete, preferia os trabalhos internos.
Com o tempo, apoiada pelas brincadeiras dos amigos e o carinho dos colegas, foi se soltando e, para sua surpresa, se tornou conhecida e admirada por todos que ali faziam suas refeições e tomavam seu café.
A voz era baixa e meiga, o sorriso delicado um presente para quem chegava. Sua atenção era a recompensa para todos que frequentavam o local.
Com a sua presença, a boa comida e o atendimento gentil eram sempre acompanhados de uma especialidade da casa:
O saboroso café paulista com o doce sorriso baiano!
Ivan Postigo
Diretor de Gestão Empresarial
www.postigoconsultoria.com.br
Nossas maiores conquistas não estão relacionadas às empresas que ajudamos a superar barreiras e dificuldades, nem às pessoas que ensinamos diretamente, mas sim àquelas que aprendem conosco, sem saber disso, e que ensinamos, sem nos darmos conta.
Autor
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Economista, contador, pós-graduado em controladoria pela USP. Vivência em empresas nacionais, multinacionais americanas e européia de lingotamento de aço, equipamentos siderúrgicos, retroescavadeiras e tratores agrícolas, lentes e armações de óculos, equipamentos de medição de calor, pilhas alcalinas, vestuários, material esportivo, refrigerantes, ferramentas diamantadas , cerâmicas, bebidas quentes, plásticos reciclados, hotelaria e injeção de plásticos. Executivo nas áreas fabril, administrativa/financeira, marketing e vendas.
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