Cliente, a majestade destronada
Cliente, a majestade destronada
O que estamos fazendo com nossa famosa gentileza e atenção, que tanto nos orgulhava nos encontros e no atendimento aos clientes?
Serviços de telefonia e redes de TV a cabo não cumprem a agenda de instalação, moveis não são enviados aos clientes nas datas acordadas, pedir para ver roupas e sapatos um sacrifício, o prato no restaurante chega frio, a conta demora uma eternidade. Presentes deixaram de ser embalados com requinte, hoje não passam de pacotes grotescos, e exigir o serviço bem feito transforma-o num incômodo.
Ao entrar em uma loja prepare-se, pois poderá encontrar desde a falta de conhecimento ao desinteresse. Mas também não será surpresa se circular pelo local sem que seja notado.
Há algumas semanas fui comprar um presente na loja de uma grande rede e não encontrei nenhum vendedor no local. Notei uma garota uniformizada encostada em um canto e perguntei: – Você é vendedora?
Ela acenou negativamente com a cabeça, mas não se moveu. Voltei a questionar: – Onde posso encontrar um vendedor?
Sem qualquer expressão, olhou em volta, e respondeu:- Não sei.
Resolvi insistir: – Sabe onde posso encontrar o gerente?
A resposta negativa veio com um movimento da cabeça.
Pensei, quem sabe ela não está bem, então tentei outro caminho: – Você está bem?
Naquele momento ela não mais me olhava, fazia pontaria!
Bom, se não havia abertura para uma conversa, havia um pedido e disse: – Poderia, por gentileza, encontrar um vendedor para mim?
Ela torceu o nariz e lá se foi com seu jeito indolente, arrastando os chinelinhos, para o outro lado da loja. Não mais a vi. Claro que o vendedor também não.
Lá estava eu na “encruzilhada”: continuar procurando atendimento ou ir embora?
No dia seguinte fomos a uma loja comprar um brinquedo para minha sobrinha. Na entrada havia uma senhora esparramada em uma cadeira.
Não sabíamos o que comprar e demorávamos em cada corredor, olhando com atenção, tentando descobrir o que poderia agradar nossa princesa.
Depois de um tempo, ouvimos atrás de nós: – Precisam de ajuda?
Claro que precisávamos, então dissemos como era a garota. A senhora começou a tirar caixas das prateleiras e colocar em nossas mãos. A cada pergunta que fazíamos, ela respondia: – Isso não sei…
Depois da quinta ou sexta pergunta, ela pegou a caixa que estava em suas mãos, olhou um lado, olhou o outro, colocou de volta na prateleira e disse: – Eu não conheço muito esses brinquedos, mas vão olhando que vocês vão acabar achando algo interessante, e desapareceu.
Assim que encontramos um jogo divertido fomos ao caixa. Ao lado estava a senhora, novamente esparramada na cadeira. Ela se levantou e levou uma eternidade para se acertar com a “máquina do cartão”.
Conta paga, era hora de pegar o produto. Não estava embrulhado. Ficamos olhando e aguardando, imaginando que ela fosse tomar as providências. Assim que voltou a se esparramar na cadeira, perguntei: – Já embrulharam o brinquedo?
Nesse momento a garota que estava no balcão, vendo a chuva cair, olhou de lado e disse: – Este aqui?
Sem pressa nem agilidade fez um embrulho feio de doer!
Na mesma hora pensamos: – Vamos cair fora, vai que isso seja contagioso – e saímos correndo na chuva para pegar o carro.
A caminho de casa, majestade perdida, seguiam rei e rainha destronados e ensopados!
Ivan Postigo
Diretor de Gestão Empresarial
www.postigoconsultoria.com.br
Autor
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Economista, contador, pós-graduado em controladoria pela USP. Vivência em empresas nacionais, multinacionais americanas e européia de lingotamento de aço, equipamentos siderúrgicos, retroescavadeiras e tratores agrícolas, lentes e armações de óculos, equipamentos de medição de calor, pilhas alcalinas, vestuários, material esportivo, refrigerantes, ferramentas diamantadas , cerâmicas, bebidas quentes, plásticos reciclados, hotelaria e injeção de plásticos. Executivo nas áreas fabril, administrativa/financeira, marketing e vendas.
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