Sementes da violência
Sementes da violência
Acontece em uma região da Ásia, aqui não faltarão exemplos.
Na verde encosta das montanhas, crescem plantas que geram flores, frutos e sementes oleaginosas que sustentam a fauna.
O espaço também é ocupado pelo homem e seus rebanhos. A luta pelo sustento impede a convivência e a sustentabilidade da região.
Ali vive um papagaio cinza que se alimenta de sementes ricas em gordura, necessária para gerar o calor que os protege no rigoroso inverno.
A existência dessas plantas impede a progressão da grama, fundamental para a criação do gado. Para o homem, o fogo derruba barreiras, assim incendeia as montanhas para debelar a mata concorrente, abrindo espaço para o que lhe interessa.
Os papagaios, ávidos por gordura, invadem as cidades e reviram todo tipo de lixo na sua busca irrefreável. Não escampam potes de margarina, embalagens de leite e iogurtes, restos de comida, o que encontrem. Alimentando-se e intoxicando-se.
A população, cada vez mais, cria artifícios para que as desajeitados e famintas aves não espalhem as sujeiras por onde passem, com isso só lhes restam uma alternativa: voltar às montanhas em busca de solução.
Malandros, espertos, como os papagaios das anedotas, a encontraram. A gordura que tanto precisam está por todos os lados nas montanhas, nos corpos das ovelhas.
Como vampiros, passaram a atacá-las, nas costas, na altura do pescoço, logo abaixo da cabeça.
Com seus bicos longos, curvos e fortes, afastam a lã, atravessam a pele e dali retiram a energia necessária.
Os maus-tratos incessantes enfraquecem os rebanhos e danificando couro e lã, bens tão valiosos para o homem.
Foi declarada a guerra entre o homem e a natureza que este invadiu. O fogo não foi suficiente para derrubar as barreiras, então está decidida a solução final: exterminação dos papagaios!
Armados de fogo não deu? Simples, armas de fogo! Assim resolvemos os conflitos, quando as razões não entendemos.
Para uns a natureza, para outros apenas um papagaio, para eles uma praga!
Daqui a algum tempo teremos mais uma obra da natureza apenas em filmes fotos, para desinteresse de muitos e lamento de poucos.
Talvez sua existência fique registrada na “Lápide de animais extintos, em Beijing”, talvez não.
Lobo da Tasmânia 1936
Tharpan 1919
Antílope Bubal 1923
Quagga 1883
Tigre Cáspio 1950
Tigre de Java 1980
Foca Monge do Caribe 1952
Asno Selvagem da Síria 1928
Baiji 2007
Veado de Schomburk 1932
Apenas para citar alguns!
Aqui nas nossas terras já perdemos a Araraúna, Maçarico-esquimó, Mutum do nordeste (só existe em cativeiro), rato-candango, entre tantas outras.
Severino, o último espécime selvagem da ararinha-azul, desapareceu em outubro de 2.002. Que triste lembrança no mês de meu aniversário!
Muitas outras terão seus destinos selados, seguindo o caminho dos papagaios, vítimas das sementes da violência.
Quem sabe, em outra vida, não voltaremos como minhocas, como acreditam alguns povos. Assim viveremos na terra e da terra, onde nossa maior riqueza enterramos.
Ivan Postigo
Diretor de Gestão Empresarial
www.postigoconsultoria.com.br
Nossas maiores conquistas não estão relacionadas às empresas que ajudamos a superar barreiras e dificuldades, nem às pessoas que ensinamos diretamente, mas sim àquelas que aprendem conosco, sem saber disso, e que ensinamos, sem nos darmos conta.
Autor
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Economista, contador, pós-graduado em controladoria pela USP. Vivência em empresas nacionais, multinacionais americanas e européia de lingotamento de aço, equipamentos siderúrgicos, retroescavadeiras e tratores agrícolas, lentes e armações de óculos, equipamentos de medição de calor, pilhas alcalinas, vestuários, material esportivo, refrigerantes, ferramentas diamantadas , cerâmicas, bebidas quentes, plásticos reciclados, hotelaria e injeção de plásticos. Executivo nas áreas fabril, administrativa/financeira, marketing e vendas.
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