A morte do pequeno empresário
A morte do pequeno empresário
Alguma vez na vida um assunto o provocou e você sentia que precisava conversar com alguém sobre ele, ou quem sabe, escrever algo, mas não sabia como começar?
As idéias vinham aos borbotões, às vezes em lugares em que não era possível anotá-las, outras vezes eram tantas que era impossível estabelecer uma ordem e você acabava não escrevendo nada?
Tomara que você diga que sim, vou me sentir melhor.
Nossos avós diziam após as nossas traquinagens: “Crianças são crianças, todas são iguais”.
É verdade, eu também as considero muito parecidas.
George Orwell usou em seu magnífico livro A revolução dos bichos a seguinte frase: “Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais do que outros”.
Vamos usá-la com uma pequena adaptação, tornando-a mais leve, já que na história o sentido não é.
Todas as crianças são iguais, algumas mais iguais que outras. Mais traquinas, agitadas, com mais vivacidade, “mais pimenta”, mais criatividade.
Todas capazes de coisas incríveis, longe de nós adultos que as inibimos. Há peraltices que precisam ser controladas, outras não!
A infância em todos os lugares do mundo é parecida.
Fugimos para nadar nos rios, subir em árvores, ir a lugares distantes de bicicleta onde os pais acham perigosos, andar sobre muros, telhados, soltar pipas onde há fios elétricos, jogar bola nas ruas entre os carros…
E, também, procuramos desenvolver nossa independência, muitas vezes não compreendida.
Nascidos e criados no interior, em cidade operária, não passávamos privações, mas não tínhamos luxo, isso fazia a garotada se virar.
Nossos presentes? Bolas e uma bicicleta com muito choro!
Ah, mas o interior reserva um presente para a garotada que gosta de um bom futebol. Os estádios são pequenos e você pode ver seus ídolos de pertinho. Eu vi os meus, no antigo campo do São Bento de Sorocaba, no bairro da espanholada, na Rua dos Morros, ali encostado no alambrado!
Depois ficávamos até tarde nas ruas tentando repetir o que víamos…
Faltava uma coisa: O uniforme! Pedir aos pais?
Tá maluco? A resposta seria uma só: “Tá pensando que dinheiro cai do céu?”
Deus ouve e diz às crianças: Calma, use a cabeça e você conseguirá!
Plim! Naquele dia passa na rua o homem que compra sucatas…
Cobre, alumínio, vidro, ferro, e lá vai a criançada juntando o que encontra. Escondidos dos pais vão juntado a tralha que permite comprar as camisas brancas, depois os números e, logo em seguida, os distintivos. Numa tacada onze empresários.
Nosso time virou o Santos sob protesto. Seria assim ou não haveria time. Quem mandava naquele grupo e no time era um ruivo briguento. Havia uma vantagem, era bom de bola.
Descoberta a mina de ouro, continuamos a juntar tralhas que pagavam nossas pizzas e cocas de fim de semana. Escondidos dos pais. Por que não contávamos? Eles não entenderiam.
O “empreendimento” pagava à todos, a cada quinze dias, uma hora de patinação e o “rango” na volta.
Alguns vendiam gibis, outros entregavam marmitas nas fábricas, carregavam telhas, tijolos e areia, para que não ficassem nas calçadas e com isso ganhavam pão com mortadela e tubaína – esse refrigerante tem variações de nome dependendo da cidade.
Muitos amigos não se arriscavam a engraxar sapatos, levariam uma bela surra se fossem pegos pelos pais. Estes jamais admitiam que exercessem aquela atividade, não era para isso que estavam sendo educados. Para aqueles que não entendiam e perguntavam por que a resposta era sempre a mesma: Orgulho de pobre.
Claro, existiam aqueles que, independente do risco, escondiam sua caixa na casa de amigos e escapuliam em busca de faturamento, afinal domingo a tarde tinha matinê.
Poucos seguiram e se transformaram em empresários, a maioria encerrou as aventuras quando se descobriu crescendo e foram orientados a obter um diploma para ter uma carreira nas empresas ou para prestar concursos públicos, evitando as incertezas do empreendedorismo. Uma vida modesta, mas segura, sem o desconforto dos riscos dos negócios.
As palavras que faltavam sobram neste momento, dariam para contar histórias e mais histórias, mas prefiro fazer uma recomendação, deixando a fala para alguém que merece ser ouvido.
Cameron Herold é um visionário em empreendedorismo. Na internet é possível conhecer seu trabalho. Sua recomendação para que pais e professores encorajem as crianças a se tornarem empreendedoras é sem igual. As observações quanto à educação de crianças com déficit de atenção um primor.
Não deixe de ver seu vídeo, com legendas: “Vamos educar as crianças para serem empreendedoras”.
São dicas simples, mas extremamente valiosas para que incentivemos e não destruamos, desde cedo, nossos pequenos empresários.
Twitter: @ivanpostigo
Autor
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Economista, contador, pós-graduado em controladoria pela USP. Vivência em empresas nacionais, multinacionais americanas e européia de lingotamento de aço, equipamentos siderúrgicos, retroescavadeiras e tratores agrícolas, lentes e armações de óculos, equipamentos de medição de calor, pilhas alcalinas, vestuários, material esportivo, refrigerantes, ferramentas diamantadas , cerâmicas, bebidas quentes, plásticos reciclados, hotelaria e injeção de plásticos. Executivo nas áreas fabril, administrativa/financeira, marketing e vendas.
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