Muita oração, pouca devoção
Jairo e Juvenal eram sócios em uma empresa de comunicação. Iniciaram o projeto entusiasmados, com uma equipe jovem, disposta a trabalhar duro.
No começo nada foi fácil, os clientes não apareciam, mas devagar foram conquistando espaço.
Jairo gostava muito de Juvenal, este era alguns anos mais jovem, criativo, estava prestes a se casar, nunca fora dado a noitadas e com o tempo descobrira era bastante religioso.
Voltando da lua-de-mel, Juvenal encontrou o escritório abarrotado de projetos, Jairo havia feito um trabalho de prospecção forte e conquistara muitos clientes.
Todos estavam trabalhando, praticamente todos os dias, até altas horas.
Era comum ver alguns funcionários investindo nas madrugadas para dar conta da demanda.
Jairo costumava chegar entre nove de dez horas da manhã e não saia antes das vinte e duas horas. Juvenal arriscou algumas empreitadas até as dezenove e trinta, mas logo começou se aborrecer.
Aquele horário o impedia de ir aos cultos, ensaiar com os músicos que tocavam em sua igreja e ainda o obrigava a lidar com mau humor da jovem esposa.
Os trabalhos começaram acumular, mas Jairo hábil conseguia empurrar as datas e ainda trazia cada vez mais clientes.
À medida que as queixas aumentavam Jairo pedia ajuda a Juvenal para que explicasse a demora aos clientes, mas este era enfático: – Minha área é criação, vendas e atendimento é responsabilidade sua.
Os choques diários eram inevitáveis, o ambiente carregado, então Juvenal resolveu tomar uma decisão: Cumpriria o horário à risca, entrando às 9 horas, saindo as 17:30 horas, não importando se fizesse sol ou chuva.
Jairo entrou em desespero, ele não era suficientemente criativo para dar conta dos projetos e Juvenal começou a dar pouca atenção à equipe.
As listas com as pendências que Jairo recebia todos os dias eram enormes e algumas decisões que tomava no dia seguinte eram contestadas e alteradas por Juvenal.
Quanto mais problemas surgiam, mais Juvenal se apegava à argumentos religiosos, colocando nas mãos de Deus o destino de todos.
Sua argumentação se tornou curta e incisiva: – Deus há de prover!
Jairo não tinha coragem de contestá-lo veementemente, afinal seu irmão também sofrera um revés nos negócios e havia se apegado a religião como um caminho para resolver os problemas financeiros.
Inevitavelmente começaram a perder clientes e a ter que devolver adiantamentos recebidos, o que deixou o ambiente um tanto carregado.
O objetivo de Jairo já não era mais, naquele momento, encontrar um rumo para a empresa, mas livrar-se do sócio definitivamente.
Juvenal já havia proposto a saída com duas condições: Ficaria com a marca e escolheria os clientes para sua carteira.
Não demorou para que Jairo em desespero acompanhasse o irmão em alguns cultos e em sessões de orientação.
Agora era Jairo que também não perdia a chance de fazer suas orações.
Em uma dessas reuniões Jairo conheceu José, pessoa simples, olhar penetrante, que falava calma e firmeza impressionantes.
José se dispôs a ouvir Jairo. Pacientemente deixou que fizesse todo o relato, desde o início da empresa.
Refletiu e disse: – Meu caro amigo, orar é bom como agradecimento pelas graças obtidas e por iluminação como orientação.
– Não de deve pedir ajuda para execução das nossas atribuições, principalmente quando temos saúde.
– Estamos vivendo uma fase de grande religiosidade, sem fé. As pessoas não conseguem distingui-la dos sonhos.
– Sonho é acreditar que Deus lhe dará aquilo que você pede, fé é acreditar que Deus lhe dará aquilo que você merece.
– Vocês jovens deixaram de lado a devoção ao que faziam e a entregaram nas mãos de Deus. Devoção é dedicação, isso cabe à vocês cuidarem!
– Caso não consigam realmente mais conviver como sócios evitem a inimizade, cada um seguindo seu caminho, mas tirando disso uma grande lição.
– De nada adianta tanta oração para tão pouca devoção.
Ivan Postigo
Economista, Bacharel em contabilidade, pós-graduado em controladoria pela USP
Autor do livro: Por que não? Técnicas para estruturação de carreira na área de vendas
Autor do e-book: Prospecção de clientes e oportunidades de negócios
Postigo Consultoria de Gestão Empresarial
Fones (11) 4526 1197 / (11) 9645 4652
www.postigoconsultoria.com.br
“Quando a sorte me procura ela me encontra trabalhando”
Autor
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Economista, contador, pós-graduado em controladoria pela USP. Vivência em empresas nacionais, multinacionais americanas e européia de lingotamento de aço, equipamentos siderúrgicos, retroescavadeiras e tratores agrícolas, lentes e armações de óculos, equipamentos de medição de calor, pilhas alcalinas, vestuários, material esportivo, refrigerantes, ferramentas diamantadas , cerâmicas, bebidas quentes, plásticos reciclados, hotelaria e injeção de plásticos. Executivo nas áreas fabril, administrativa/financeira, marketing e vendas.
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