A outra face da liderança
É interessante como as pessoas gostam de tratar liderança como algo natural e positivo.
E ainda falam de um processo educativo, como se para isso existisse um manual.
O enfoque da liderança, como processo, poderia nos levar a dizer:
Liderança é o processo de condução de um grupo de pessoas, transformando-o numa equipe, de forma que contribuam voluntariamente para alcançar os objetivos propostos.
Se o enfoque fosse habilidade natural, diríamos:
Liderança é a habilidade de exercer influência sobre um grupo de pessoas, de forma que contribuam voluntariamente para alcançar os objetivos propostos.
O assunto fica restrito a esses dois pontos? Logicamente que não, afinal há pessoas que não conhecem processos de condução de grupos, não tem habilidade e lideram. Não querem, mas lideram!
Se você ainda não se deu conta como, veja : lideram por motivação.
Como definiríamos essa situação?
Liderança é o poder de dar motivos à um grupo de pessoas, de forma que contribuam voluntariamente para alcançar um objetivo.
Objetivo formado por aquela idéia, cuja bandeira pode ter sido levantada apenas pela reflexão!
As diferenças nas frases são sutis, mas não os fatos que as geraram.
Interessante, também, é que uma palavra costuma integrar as definições de liderança: ética.
Ora, não faltam na história exemplos ruins de condução de grupos, quer por processo, habilidade ou poder de motivação. Onde entra a ética nessa questão?
Não seriam essas situações consideradas lideranças e os personagens líderes, ainda que nefastas?
Poderiamos pensar em dois tipos de escolas, a Escola de líderes e a Escola para líderes?
Uma que busca encontrar líderes: Escola de líderes – aquela que visa ensinar as pessoas a se tornarem líderes, despertando qualidades que as façam liderar, e, quando não as têm, ensinando processos de condução de pessoas, métodos de motivação e ética.
E outra que visa o aprimoramento de líderes: Escola para líderes- aquela cujos alunos foram identificados com talentos para liderença, mas precisam aprender técnicas de motivação, processos de condução de pessoas e ética.
E porque as pessoas, sem aptidão, deveriam tentar descobrir dentro delas algo que as permitissem liderar, se comandar é um tema menos complexo?
Para comandar você só precisa de objetivos, regras e estar investido de autoridade.
Seria porque imaginamos que sob liderança o clima poderia ser mais brando? Nem sempre!
Desenhemos uma situação:
A direção da empresa é composta por quatro pessoas, o presidente e três diretores. Você é um dos diretores.
Algumas medidas precisam ser tomadas com urgência, a pressão da matriz está terrível. Depois de horas de debates, três deles, inclusive o presidente, concordam com um caminho, exatamente aquele com o qual você discorda radicalmente. No plebiscito você é voto vencido e não se conforma com as medidas que serão tomadas.
Você tem enorme influência sobre as equipes, mas sabe que se “bater de frente” com os dirigentes irá para o olho da rua. Disso não tem a menor dúvida.
O que você faria?
Vai em frente, levanta a bandeira, liga para a matriz e entra em choque com os demais, pagando o preço pela liderança ou aceita a situação, integrando-se como mais um soldado?
Isso vai lhe custar alguma coisa também, afinal muitos liderados deixarão de vê-lo com tal!
Há um ditado antigo, no qual vou pegar carona. Diz o seguinte:
“Não chame de honesto um homem que nunca teve a oportunidade de roubar.”
Diria o mesmo sobre a liderança: “Não chame de líder o homem que nunca esteve sob fogo pesado”.
Sempre me provocou dois aspectos nas avaliações de desempenho:
– O primeiro, é que sempre há um item para avaliar o nosso perfil como líder;
– O segundo, quando há alguma discordância, que se solicite ao avaliador para que deixe claro como seremos avaliados no futuro, para agirmos como tal.
Sabendo, sempre, que a discordância pode impedir promoções, aumentos, transferências, ou gerar medidas disciplinares.
Sim, mas e a liderança? Inibida?
A verdadeira face da liderança é exercê-la, também, quando riscos existem e preços precisam ser pagos.
Nelson Mandela, por sua liderança, esteve preso por quase três décadas.
Qual o maior preço que você pagaria por sua liderança?
Antes de responder reflita e veja se realmente já esteve sob fogo pesado!
Ivan Postigo
Diretor de Gestão Empresarial
www.postigoconsultoria.com.br
Autor
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Economista, contador, pós-graduado em controladoria pela USP. Vivência em empresas nacionais, multinacionais americanas e européia de lingotamento de aço, equipamentos siderúrgicos, retroescavadeiras e tratores agrícolas, lentes e armações de óculos, equipamentos de medição de calor, pilhas alcalinas, vestuários, material esportivo, refrigerantes, ferramentas diamantadas , cerâmicas, bebidas quentes, plásticos reciclados, hotelaria e injeção de plásticos. Executivo nas áreas fabril, administrativa/financeira, marketing e vendas.
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