A ética e o gerenciamento de projetos
O PMBOK – Project Management Body of Knowledge, que é o conjunto de melhores práticas em gerenciamento de projetos é publicado pelo PMI – Project Managament Institute, estando em sua quarta edição, datada de 2008.
Muita gente acredita que “Código de Ética e de Conduta Profissional” seja uma das disciplinas do PMBOK. Estão enganados, pois não é! As nove disciplinas contidas no PMBOK são: gerenciamento do escopo, de riscos, de custos, da comunicação, dos recursos humanos, do tempo, da qualidade, de aquisições e gerenciamento da integração.
Em um primeiro momento, o fato do tema “Código de Ética e de Conduta Profissional” estar fora do PMBOK poderia causar entranheza ou algum tipo de desconforto aos leitores mal avisados, pois permite uma equivocada e precipitada conclusão de que o PMI estaria atribuindo baixa prioridade para assunto tão importante.Indiscutivelmente, a ética permeia todas as atividades de um gerente de projetos, para qualquer tipo de projeto, em qualquer uma das nove disciplinas mencionadas.
Na realidade, a ética está presente (ou deveria estar) no dia a dia de todas as pessoas, no exercício de nossas atividades profissionais ou pessoais, na escola, no trabalho, no clube, no trânsito, nos negócios, no cinema, na rua, enfim, a ética deveria ser o oxigênio levado a cada célula do organismo humano, dando-lhe vitalidade, saúde moral e direcionando as ações de empresários, políticos e cidadãos.
Retomando o tema de gerenciamento de projetos, em todas as nove áreas do conhecimento (disciplinas), a ética está presente. Por exemplo, no gerenciamento da comunicação, cabe ao gerente do projeto: elaborar/acompanhar o Plano de Comunicação do Projeto e distribuir a informação para os interessados no projeto. No entanto, é inerente à sua atuação nesta disciplina que ele seja ético, dizendo a verdade e sem postura de “omissão por conveniência” diante de situação desfavorável do projeto ou de seus resultados. De forma análoga, é responsabilidade do gerente de projeto no gerenciamento do escopo realizar a gestão dos requisitos do projeto, garantindo a entrega com qualidade nos prazos pactuados. Entretanto, do ponto de vista ético, o gerente deve deixar explícito, claro e documentado “o que o projeto faz e o que o projeto não faz”, evitando situações intencionalmente dúbias ou omissas. Há impasses em que muitos profissionais visando postergar a situação-problema alegam que “depois o cavalo fala…”.
O tempo passa, o cavalo trota, você chicoteia, o cavalo galopa, relincha, você chicoteia, o cavalo geme, mas não fala! Quando menos se espera, o problema está lá diante de nossos olhos: vivo, real e maior. Em todas as disciplinas do PMBOK a ética está presente, porém em duas específicas de forma absolutamente latente e intensa: no gerenciamento dos recursos humanos e das aquisições. No gerenciamento dos recursos humanos do projeto, o líder deve atuar junto à equipe com imparcialidade, honestidade e de forma criteriosa. Deve apoiar os integrantes no seu desenvolvimento profissional, dando feedback periódico, realizando avaliações consistentes, de forma a permitir o crescimento de sua equipe. Além incentivar e estimular sua equipe, o gerente de projetos deve estar atento a duas regras básicas na gestão de pessoas (e muitas vezes tão negligenciadas):
A primeira, quando realiza elogios a algum profissional, que o faça na frente de outras pessoas, possibilitando que se sinta valorizado e com auto-estima ampliada, porém, quando faz críticas, que as realize de forma isolada, apartada, evitando qualquer exposição da pessoa perante o grupo.
A segunda regra básica é quanto aos tradicionais “pontos fortes” e “pontos fracos” mencionados nas reuniões de feedback. O termo “pontos fortes” deve ser utilizado, pois permite que o profissional potencialize aquilo que tem de bom, mas o termo “pontos fracos” deveria ser excluído do vocabulário de todos os gerentes. Sugestão? Pontos a desenvolver! Se dissermos a uma pessoa que seu ponto fraco é a comunicação escrita, isto deixará evidente que se trata de algo deficitário, estabelecido e incorporado a ela. Entretanto, se dissermos que o ponto a desenvolver é a comunicação escrita, isto transmitirá a ela uma verdade (que não é boa), mas a mensagem trará de forma implícita uma ideia de que é algo a melhorar, possível e provável, pois depende do esforço da própria pessoa. Assim, a mensagem transmitida desta maneira tem uma carga de positividade, de desafio e estímulo.
Outra disciplina do PMBOK bastante vulnerável aos aspectos éticos é o gerenciamento das aquisições. Um gerente de projetos tem muitas vezes a responsabilidade de escolher ou recomendar um fornecedor e por isso, pode privilegiar alguma empresa por interesses pessoais ou para beneficiar algum amigo ou parente. Outro aspecto são os “presentinhos” dados por fornecedores, que devem ser evitados para evitar comentários, situações constrangedoras, ou mesmo, a ocorrência da persuasão inconsciente. Em situação de dúvida, acho recomendado que se faça o Teste da Raytheon, empresa norte-americana que desde 1922 lidera o desenvolvimento de tecnologias de defesa e as converte para o uso comercial. O teste consiste de quatro perguntas quanto à confiança no julgamento que você faz:
(1) é uma ação legal?
(2) você se sentirá bem com esta ação?
(3) é a coisa certa para ser feita?
(4) a ação pode ser compartilhada publicamente?
Após responder estas simples questões, a decisão torna-se rápida, segura e definitiva.
Assim, o Código de Ética e de Conduta Profissional do PMI não faz parte do PMBOK, mas trata-se de um documento específico que norteia as obrigações básicas de um gerente de projetos quanto à responsabilidade, respeito, justiça e honestidade. Como os praticantes em gerenciamento de projetos têm diferentes culturas e backgrounds, sua aplicação é mundial. Se o aceite ao código é requisito para a obtenção do certificado PMP (Project Management Professional) do PMI, o seu cumprimento é requisito para o exercício pleno da profissão de gerente de projetos e para se ter a consciência tranquila!