Absenteísmo é só a ponta do iceberg
Absenteísmo é o termo usado para designar a ausência do trabalhador na empresa.
Uma questão grave e complexa para as organizações, pois envolve remunerações, perdas de produção, gastos extras, que provocam prejuízos.
Muitos estudos e pesquisas apresentam as causas das ausências relacionadas à capacidade física e psicológica das pessoas, e à falta de motivação para o trabalho, influencida por fatores internos e externos à empresa.
A motivação para a assiduidade também é afetada por procedimentos organizacionais, como recompensas e punições.
A declaração de missão de muitas empresas traz suas crenças e valores, pois as reconhecem em suas culturas como aspectos
de integração, participação e comprometimento.
A questão, tratada de forma direta, nos leva a perguntar: por que uma pessoa integrada, participativa e comprometida se ausentaria do trabalho?
Esse assunto gera acalorados debates e um frio na espinha dos gestores de recursos humanos, que procuram apoio de médicos, psicólogos, assistentes sociais, mas muitas vezes mantêm-se afastados dos gestores das áreas onde a incidência é signifitiva.
Vamos a alguns casos práticos, expostos para reflexão.
Silva é um supervisor intransigente e de difícil trato. Os funcionários o evitam, preferiam não ter que trabalhar com ele. Pelos anos de casa Silva conta com apoio do gerente e respeito da direção.
Verdade seja dita, seu chefe imediato miniza os contatos também, conversando assuntos estritamente necessários, e usa como ponte a habilidade de sua assistente Neusa, quando deste não quer se aproximar.
É justamente em sua área que o absenteísmo apresenta maior incidência.
Quando um funcionário lhe dizia que chegaria atrasado, pois tinha algumas questões para resolver fora da empresa, ele simplesmente respondia: – Se vai atrasar, não precisa vir!
A regra se estabeleceu, as pessoas se ausentam e depois comunicam. Mesmo os novatos, assim que chegam, são orientados quanto à cultura pelos colegas.
Teodoro, líder de uma das turmas, gosta de “tirar o máximo que pode do dia”. O ritmo de trabalho em seu setor, quando chegou, era alucinante. Não durou muito a proeza. É ali, justamente, onde a quantidade de afastamentos e ausências de trabahadores se mostra preocupante.
O trabalho pesado e repetitivo têm provocado baixas e Teodoro não se mostra sensível para analisar o fato com seus colegas de recursos humanos.
Pedro, supervisor da área ao lado, não. É camarada e compreensivo. Mantém as portas abertas e diálogo franco, mas vive um dilema.
Na equipe se deparou com dois colaboradores com perfis diferentes, competentes, mas que lhe provocam a sensação de excesso e falta de comprometimento, como dizia à Joel, o gerente de recursos humanos.
Um deles, Benê, vive às turras com a esposa, que o quer por perto sempre que leva Pedrinho, o pequeno filho, ao pediatra.
Sua presença nas festinha da escola do rebento é mais um motivo para os desentendimentos, entre outros. A situação é pública, gerando algumas observações dos colegas: “antes de pedir à Benê que faça algo é melhor perguntar se virá!”
Bill já tem outro comportamento. Dia desses a “menina do meio“ sofreu um pequeno acidente e passou por uma rápida cirurgia. Preocupado e zeloso, esteve ao lado da esposa no hospital. Terminado o procedimento e tranquilizado pelo médico, que lhe explicara que nada grave havia ocorrido, acertou com a esposa que iria para a empresa e no fim do expediente voltaria.
Os amigos, inconformados, lhe diziam: – Bill, o que você está fazendo aqui, filha está hospitalizada?
Bill, com toda paciência do mundo, procurava acalmar todos explicando que fora mais o susto e que, com seis filhos, se cada vez que um ficasse doente ele se ausentasse, jamais trabalharia.
Absenteísmo, mais do que a pura ausência do trabalhador, costuma estar ligado à falta de entendimento de questões importantes que precisam ser gerenciadas.
Ouvir todos os envolvidos permitirá o esclarecimento do problema, pois para essa complexa questão, que tanto desconforto gera, há um ditado popular bem adequado: “Toda panqueca, por mais fina que seja, sempre tem dois lados”.
Por essa razão, esteja atento, absenteismo é apenas a ponta do iceberg. Para conhece-lo, a única forma é mergulhar em águas frias.
Ivan Postigo
Diretor de Gestão Empresarial
www.postigoconsultoria.com.br
Nossas maiores conquistas não estão relacionadas às empresas que ajudamos a superar barreiras e dificuldades, nem às pessoas que ensinamos diretamente, mas sim àquelas que aprendem conosco, sem saber disso, e que ensinamos, sem nos darmos conta.
Autor
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Economista, contador, pós-graduado em controladoria pela USP. Vivência em empresas nacionais, multinacionais americanas e européia de lingotamento de aço, equipamentos siderúrgicos, retroescavadeiras e tratores agrícolas, lentes e armações de óculos, equipamentos de medição de calor, pilhas alcalinas, vestuários, material esportivo, refrigerantes, ferramentas diamantadas , cerâmicas, bebidas quentes, plásticos reciclados, hotelaria e injeção de plásticos. Executivo nas áreas fabril, administrativa/financeira, marketing e vendas.
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