O lucro e a zona de conforto
O lucro e a zona de conforto
Na era do lucro especulativo, onde empresas, uma após outra, naufragam em seus endividamentos, sem apoio e incentivos para sobrevivência, lucro é um tema que não se esgota.
Um dia, após a publicação de uma matéria que eu havia escrito sobre o assunto, li as críticas. Apareceram opiniões a favor e contra os lucros.
Umas diziam que lucro é um direito do empresário, a justa remuneração pelo investimento e pela disposição ao risco, outras criticavam o excesso de lucros das empresas. Algumas criticavam o capitalismo selvagem, cujo único objetivo é o lucro. Havia uma que dizia que uma empresa não precisa ter lucro, o que não pode é ter prejuízo.
Lógicas ou ilógicas, as frases sempre determinavam um posicionamento mais ou menos apaixonado. Poucos foram os comentários isentos de emoção.
Num debate sobre a questão, um empresário fazia a seguinte colocação com humor: “Lucro no mercado brasileiro é uma realidade ou lenda?”.
Vemos os impostos levarem mais de 30% de todo o fluxo de dinheiro que circula pela empresa, os juros levam aos bancos mais de 5% do montante, os custos levam aos fornecedores de materiais e serviços mais de 50% do valor, e à empresa resta no final menos de 5%, depois de uma longa caminhada.
O fato é que para atingir o ponto de lucro a organização deve percorrer um longo caminho até superar o ponto de equilíbrio, onde as receitas e despesas se igualam. O famoso break-even-point .
As empresas dificilmente atingem o ponto de equilíbrio até operarem acima de 65% de sua capacidade. Há uma série de compromissos fixos que devem ser pagos ocorram ou não vendas. Aluguéis, energia elétrica, despesas com comunicação, pessoal administrativo, combustíveis, material de escritório são demandas mensais, com mínimo gasto mensal, ocorram ou não receitas.
Quando se trata de indústria, os compromissos fixos são substanciais, com um agravante, limitações nos picos de produção.
Nas indústrias, com uma série de máquinas para fabricação, as limitações podem ocorrer em setores diversos, em função das características de seus produtos. Estas limitações são denominadas gargalos.
Uma indústria têxtil, por exemplo, pode fabricar tecidos, cortá-los, bordá-los, estampá-los e costurá-los.
Se a demanda por tecidos bordados for extremamente alta, a limitação para atendimento dos pedidos (gargalos) pode-se se dar nesse setor, ao passo que se a demanda for muito alta por tecido estampado, aí é que poderá estar o gargalo.
À medida que a empresa supera seu ponto de equilíbrio entra na zona de conforto, onde os lucros aparecem sem necessidade e ansiedade por novos investimentos, contudo o sucesso interrompe esse estágio.
Uma indústria operando acima de 80% de sua capacidade de produção começa a sentir os efeitos da queda de produtividade, da quebra de máquinas, da ineficiência operacional, requerendo um maior esforço para manter a mesma lucratividade.
É evidente que nenhum empresário não se sentirá feliz por ver sua empresa crescendo e prosperando, mas se sentirá preocupado seguramente, pois poucos são os meios para financiamento do crescimento da produção com juros razoáveis.
Em muitos países os juros para compra de equipamentos não ultrapassam 6% ao ano, ao passo que no nosso mercado estes são o dobro ou o triplo dos internacionais.
Imaginar que a zona de conforto de lucratividade está numa faixa de 15 a 20 % do uso da capacidade, num mercado que pouco incentiva o crescimento, é mais um motivo para se defender o direito ao lucro, não fosse este inerente aos negócios.
Não acredita nisso?
Abra uma empresa, trabalhe um ano, faça-a crescer, invista seus recursos, seu tempo, seus domingos e feriados e voltamos a falar.
Ivan Postigo
Diretor de Gestão Empresarial
www.postigoconsultoria.com.br