Contrate pelo talento, não apenas pela experiência
Dizia um amigo, em uma conversa na hora do almoço: – O mercado está carente de profissionais qualificados!
Da mesa ao lado, ouvimos: – Sempre esteve!
Viramos para ver quem falava. Lá estava um sorriso simpático, cabelos brancos, camisa azul sem gravata e paletó marinho.
– Terminaram o almoço? – perguntou
Em face da afirmativa, sorriu: – Posso me juntar a vocês?
Levantou-se, puxou uma cadeira e se acomodou com um copo d’água na mão. – Desculpe a intromissão, não pude resistir, os anos passam, os argumentos não!
Uma grata conversa, ratificou muitos pontos de vista que defendo.
Meus conhecimentos profissionais e as oportunidades que tive de trabalhar e aprender em todos os departamentos, de muitas empresas, do chão de fábrica à área de vendas, passando pela administração e gestão financeira, não se deveu apenas à minha prévia experiência, mas à confiança que depositaram em minha capacidade de resposta.
Uma lição que pede apenas uma forma de agradecimento: Ensiná-la!
Notamos a falta de profissionais qualificados, com maior frequência, em momentos inovação e exaustão, contudo a questão é mais complexa do que se mostra.
A empresa que perde um colaborador experiente e não tem tradição na formação de substitutos – backup como também são chamados – sempre enfrenta dificuldades para contratação.
No decorrer de minha carreira, fiz muitas seleções e contratações, por essa razão trabalhei ombro a ombro com empresas de recrutamento e seleção em todo o país, e as dificuldades sempre existiram.
Para os cargos de comando, as barreiras para desenvolvimento interno são maiores. Não dependemos apenas da capacidade de aprendizado e aplicação do conhecimento. É necessário facilidade de relacionamento, um pouco de liderança e gosto por condução de pessoas e esforços.
Quando contratamos pelo talento, procuramos também essas qualidades no candidato; quando o fazemos apenas pela experiência, as luzes que iluminam em demasia um ponto colocam outros sob as sombras.
Houve um período na história empresarial, motivado pela disseminação dos carentes recursos de informatização, que a palavra de ordem era: Colaborador multitarefas, multifunções.
O foco não era o conhecimento restrito, mas sua ampliação. O objetivo era ter cada colaborador preparado para exercer variadas tarefas, substituir pares e assumir posições de maior relevância.
A própria informatização, que agiu como alavanca impulsionando o processo, se tornou pá, enterrando-o.
Muitos trabalhos, ainda que complexos, não demandam conhecimentos teóricos profundos para sua execução – embora importantes.
Para um cálculo financeiro você precisa saber deduzir fórmulas? Não, com uma calculadora financeira e atendendo algumas regras de uso das teclas “i, n, PV, PMT, FV”, realiza proezas.
Muitos lembram que FV=PV*(1+i/100)^n? Hum, será que está certo? Alguém, que realmente sabe, dirá!
Se estiver certo, como calcular o “i”?
O que é esse “i”, mesmo?
Nossa vida ficou mais prática, mas está mais simples? De forma nenhuma!
Reunidos, debatendo sobre empréstimos, onde as fórmulas para cálculo de juros consideravam em um contrato o método hamburguês e em outro juros compostos e pagamentos postecipados, os gerentes da instituição financeira, com suas calculadoras e computadores portáteis, com fórmulas prontas, nos diziam: – Usamos estas planilhas e na calculadoras estas teclas. As fórmulas não sabemos como são!
Para aquele momento, nem precisavam…
Quantos profissionais, lotados em departamentos contábeis, conhecem todos os métodos e sistemas para apuração de custos e suas variantes. Muitos dominam apenas aquele que a lei estabelece como regra: Custeio por absorção.
Isso os impediria de aprender rapidamente os conceitos de custeio variável? Claro que não, principalmente se a tônica estiver no preenchimento de campos, simples digitação e emissão de relatórios de programas super, hiper, informatizados.
A escola da vida ensina na mão inversa do mundo acadêmico.
No segundo recebemos primeiro a teoria e depois fazemos as provas. Na escola da vida recebemos algumas dicas, fazemos a provas e daí sim seguimos para o aprendizado.
Os Mestres do Universo partem do pressuposto que somos todos capazes. Nosso entusiasmo vem do poder que possuímos por termos um deus dentro de nós – do grego “en” dentro, “theos” Deus e “asm” ação, Deus dentro de nós em ação.
Ensinam e nos cobram até que mostremos nossas limitações, nunca desistindo de seus eternos alunos.
Na vida – uma aventura para titãs- somos multitarefas e multifunções, sempre, por que nas empresas não?
Simplesmente porque somos recrutados pelos Mestres do Universo pelos nossos talentos e não pela nossa experiência.
Para estes jamais faltarão colaboradores qualificados.
Ivan Postigo
Diretor de Gestão Empresarial
www.postigoconsultoria.com.br
Livro: Por que não? Técnicas para estruturação de carreira na área de vendas
Autor
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Economista, contador, pós-graduado em controladoria pela USP. Vivência em empresas nacionais, multinacionais americanas e européia de lingotamento de aço, equipamentos siderúrgicos, retroescavadeiras e tratores agrícolas, lentes e armações de óculos, equipamentos de medição de calor, pilhas alcalinas, vestuários, material esportivo, refrigerantes, ferramentas diamantadas , cerâmicas, bebidas quentes, plásticos reciclados, hotelaria e injeção de plásticos. Executivo nas áreas fabril, administrativa/financeira, marketing e vendas.
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