O pior atraso não é o tecnológico, mas o intelectual
O pior atraso não é o tecnológico, mas o intelectual
“Já tentamos tudo, mas ninguém se importa.” Conhece essa frase?
Quando a questão não diz respeito às demais pessoas dá para entender, mas e quando isso os afeta, por que não se sensibilizam?
Encontramos pessoas jogando lixo nos bueiros, nas portas das próprias casas. Tem sentido?
Todos os dias vejo um sujeito, de cara fechada, varrendo sua calçada. Tudo o que encontra é para lá que vai. A cara fechada tem um motivo: afastar os vizinhos para que não lhe chamem a atenção.
Um dia todos pagarão o preço. Por falta de tecnologia? Evidentemente que não, certo?
Preste atenção neste caso, você corre o risco de ter visto alguma coisa parecida:
Os concorrentes têm máquinas com velocidade oito vezes maior do que as desta empresa.
Enquanto ela processa oito, as outras processam sessenta e quatro. Os gestores não trocam os equipamentos por falta de capital? Não. Não trocam porque o foco não está nos custos, a culpa é atribuída à equipe de vendas que não sabe argumentar e só pede descontos.
A defesa é interessante: “não precisamos ampliar o mercado, neste momento, temos que recuperar apenas os clientes que perdemos!”
Ressalte-se que, dita com ênfase, a frase ganha a potência de um aríete. Isso sem contar com o plágio, atestando o potencial do equipamento obsoleto: “panela velha é que faz comida boa”.
Trocar os computadores para quê? Esses estão bons, ainda!
Um dia “pifa” o computador do patrão, ele pega o “PC “da secretária e aos berros diz: – Como você consegue trabalhar com essa carroça? Troca essa porcaria!
Como sei disso?
Cheguei na empresa e havia na mesa da secretaria duas coisas diferentes. Um equipamento novinho e um belo sorriso.
Inocentemente, usei aquela óbvia e tola frase: – Que bom, trocou o computador!
Ela com um sorriso maroto responde: – Não, troquei a carroça!
Como sei?
Deixa pra lá, até o patrão sabe que a frase teve repercussão. Todos brincam com ele dizendo que precisam de uma carroça nova porque o cavalo é jovem.
Treinamento? Pra quê, bobagem. No passado a gente aprendia na raça!
Sim, mas a raça mudou. Esta é raça da era digital.
O “rolete com os pinos”, que formava o desenho do tecido, não existe mais, agora é tudo no computador: “aquele equipamento que algumas pessoas costumam dizer que não são muito chegadas”.
Caixa eletrônico?
Não sei usar, vou para a fila.
Isso é problema tecnológico? Certamente que não!
Pagamentos nas empresas?
Pela internet, com integração sistêmica.
Ouvia um empresário dizer há pouco tempo: Não gosto desse sistema com os bancos. Gostava mesmo quando pegava as duplicatas e assinava.
Problema tecnológico?
Automatização dos trabalhos de captação de pedidos no campo, código de barras, celulares, o fax, quando surgiu, e tantos outros avanços tecnológicos foram e serão criticados, sem qualquer avaliação cuidadosa, por uma simples razão: falta de conhecimento.
Com isso sofrem as empresas, porque evolução só é possível quando se “educa para educar”. Esse é o caminho para geração de multiplicadores – pessoas informadas e conhecimentos repartidos.
É impossível ensinar aquilo que não se sabe.
Ocorreu, ocorre e ocorrerá a evolução das espécies.
O primeiro macaco não nasceu sabendo que poderia quebrar castanhas com pedra, e nem todos sabem. Em alguns lugares, não tem castanhas, em outros, pedras e em muitos, macacos com essa sabedoria.
Por isso, pouco adianta fornecer a eles a semente e a ferramenta se não sabem usar.
Muitos macacos não devem saber, mas há todo tipo de semente prontinha para comer nos supermercados. Evolução!
No mundo globalizado, onde recursos e conhecimentos estão à disposição de todos, e a competência que nos falta pode ser adicionada de inúmeras formas, o pior atraso não é o tecnológico, mas o intelectual.
Da gaiola, com conhecimento e tecnologia, o macaco administra o circo!
Ivan Postigo
Diretor de Gestão Empresarial
www.postigoconsultoria.com.br
Nossas maiores conquistas não estão relacionadas às empresas que ajudamos a superar barreiras e dificuldades, nem às pessoas que ensinamos diretamente, mas sim àquelas que aprendem conosco, sem saber disso, e que ensinamos, sem nos darmos conta.
Autor
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Economista, contador, pós-graduado em controladoria pela USP. Vivência em empresas nacionais, multinacionais americanas e européia de lingotamento de aço, equipamentos siderúrgicos, retroescavadeiras e tratores agrícolas, lentes e armações de óculos, equipamentos de medição de calor, pilhas alcalinas, vestuários, material esportivo, refrigerantes, ferramentas diamantadas , cerâmicas, bebidas quentes, plásticos reciclados, hotelaria e injeção de plásticos. Executivo nas áreas fabril, administrativa/financeira, marketing e vendas.
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