O Uso da Inteligência Competitiva e Seus Sete Subprocessos nas Empresas Familiares
De acordo com Kahaner (1996), o uso da Inteligência Competitiva como processo para monitorar tecnologias, legislação, ambiente regulatório, concorrência, tendências, nichos de mercado, dentre outros temas, revela-se como importante apoio aos empresários inseridos em setores, cadeias produtivas e territórios.
Benefícios de uma Metodologia de Inteligência:
• Competitiva para as Micro e Pequenas Empresas
• Um processo de Inteligência Competitiva para as Micro e Pequenas Empresas é uma iniciativa inovadora porque promove o acesso a informações estratégicas para tomada de decisão.
As empresas beneficiadas por essa metodologia terão acesso a uma estrutura para monitoramento de informações e produtos de inteligência que lhes trarão, dentre outras, as seguintes facilidades:
• Acesso a uma base sumarizada de informações para comparação favorecendo Benchmarking;
• Acesso a pesquisas de mercado sistemáticas;
• Acesso a um fórum de articulação de idéias e iniciativas que fomentem o desenvolvimento do setor;
• Acesso a bases de informações e conhecimentos relativos às atividades das empresas do setor;
• Acesso a uma rede de relacionamentos para compartilhamento de conhecimentos entre os diversos agentes do setor.
Mais alguns dos benefícios da aplicação de um processo de Inteligência Competitiva para as Micro e Pequenas Empresas:
• Expansão e consolidação de seus atuais mercados;
• Análise, avaliação e monitoramento da concorrência (Benchmarking);
• Monitoramento de novas tecnologias, produtos e processos;
• Identificação de oportunidades e ameaças;
• Aperfeiçoamento do processo de planejamento;
• Minimização do tempo de busca e análise de informações;
• Apoio a trabalhos prospectivos;
• Desenvolvimento de atitude pró-ativa, antecipando-se às tendências;
• Redução de duplo trabalho ou de repetição desnecessária do trabalho e custos de uma maneira geral, favorecendo a melhoria contínua e o aumento de produtividade;
• Aumento da lucratividade;
• Diminuição do ciclo de desenvolvimento de produtos gerando redução de custos e aumento da eficiência do setor;
• Desenvolvimento de um processo contínuo de aperfeiçoamento da capacitação de profissionais;
• Tomada de decisão baseada em conhecimento do ambiente de negócios;
• Aprimoramento das relações da empresa com o mercado consumidor;
Os processos de inteligência competitiva são desenvolvidos de acordo com um Ciclo de Inteligência que é um processo contínuo e seqüencial, embora as etapas possam ser desenvolvidas simultaneamente. Enquanto as necessidades de inteligência já definidas estão sendo processadas, surgem novas demandas que exigem a reorientação dos trabalhos, portanto, dados e informações já reunidos são processados e disseminados.
O ciclo é formado por cinco etapas:
• Planejamento – na qual se concebe o processo e seus objetivos e se identificam quais necessidades de inteligência serão necessárias e quais as informações indispensáveis para atendê-las;
• Coleta e tratamento das informações – na qual são identificadas as fontes de informação relevantes, internas e externas e o tipo de tratamento que será dado à informação para armazenamento;
• Análise final das informações – na qual é feita a análise das informações já coletadas e tratadas para elaboração dos produtos de inteligência;
• Disseminação – na qual se entrega a informação analisada, ou seja, os produtos de inteligência, em um formato coerente e convincente, aos tomadores de decisão; e
• Avaliação – na qual o processo é avaliado sob dois aspectos: o primeiro diz respeito ao desempenho de cada uma das etapas que o compõem, isto é, se o melhor método de análise foi escolhido, se a escolha das fontes de informação poderia ter sido melhor direcionada, se o formato do produto foi o mais adequado, etc.; o segundo aspecto é a avaliação junto aos usuários dos resultados práticos obtidos com o uso dos produtos gerados.
O processo de inteligência competitiva possui sete subprocessos.
Subprocesso 1 – Identificação das Necessidades de Inteligência.
Nesse subprocesso serão identificadas as necessidades de inteligência, que irão gerar os denominados Tópicos Relevantes e Questões Relevantes, que serão monitorados constantemente pelos colaboradores. Cada um desses grupos deverá estar associado a uma área de monitoramento externo da empresa, denominada vigilância, tal como social, tecnológica, clientes, concorrentes, etc. Ao final desse subprocesso será feito o planejamento dos produtos de inteligência, objetivando responder a esses grupos de Tópicos Relevantes e Questões Relevantes.
Uma das formas mais fáceis de identificar esses tópicos e questões é por meio de entrevistas considerando os seguintes pontos:
• Quais decisões precisam ser tomadas?
• O que é necessário saber?
• O que já se sabe?
• Por que se precisa saber disso?
• Quando será necessário saber disso?
• O que será feito com o produto de inteligência?
• Quanto custará obtê-lo?
• Quanto custará não obtê-lo?
A primeira etapa desse subprocesso inicia-se por um workshop com representantes de cada setor, no qual se pretende identificar os riscos de decisões pendentes e as preocupações mais importantes com os agentes externos e as áreas macroambientais a serem monitoradas mais relevantes ao setor, além de obter opiniões sobre possíveis surpresas.
Em seguida, esse material é analisado, para se certificar de que as necessidades de inteligência solicitadas foram bem entendidas. Em um segundo encontro, validam-se esses enunciados junto aos empresários do setor, avaliando se o escopo do trabalho a ser realizado contempla a necessidade de inteligência para as decisões que serão tomadas.
A Relação de Tópicos Relevantes e Questões Relevantes, denominada Mapa das Necessidades de Inteligência Hierarquizadas, que deverão ser monitoradas para geração dos produtos de inteligência.
Relação de produtos de inteligência a serem desenvolvidos em consonância com as necessidades dos grupos de empresas, incluindo o formato e o meio de disseminação.
Subprocesso 2 – Identificação das Necessidades e Fontes de Informação
Esse subprocesso identificará quais as fontes de informação mais relevantes e mais úteis para auxiliar a resposta às Questões Relevantes identificadas no subprocesso 1. Isso inclui a realização de uma Auditoria Informacional em que são mapeadas as informações que hoje já estão disponíveis, quer sejam em fontes pessoais ou repositórios de dados.
Partindo dos grupos de Tópicos Relevantes e Questões Relevantes e das áreas de monitoramento identificadas, realiza-se o planejamento da ação de coleta das informações que irão responder a esses grupos.
Muitas das fontes de informação identificadas que podem ser de interesse são de domínio público, e várias delas são acessadas via Internet. As fontes abaixo relacionadas são de fácil acesso e custos aceitáveis:
• revistas especializadas;
• jornais;
• sites especializados;
• sites dos concorrentes;
• colaboradores;
• diagnósticos setoriais;
• entidades empresariais;
• organismos de fomento e de desenvolvimento;
• dados oficiais dos governos;
• diagnósticos setoriais, territoriais e empresariais elaborados por terceiros;
• bancos de dados disponíveis no mercado;
• periódicos e publicações especializadas.
Ao final desse subprocesso terá:
• Uma relação dos pontos de coleta e os principais eventos e estratégias para obter as informações necessárias;
• Uma relação de fontes de informação, internas e externas, classificadas por confiabilidade, periodicidade e necessidade, e cada fonte será também relacionada a grupos de Tópicos Relevantes e Questões Relevantes para gerar os produtos de inteligência.
Subprocesso 3 – Coleta, organização e armazenamento das informações
Coleta
Esse subprocesso trata da coleta e organização das informações segundo terminologia pertinente. As informações coletadas devem ser classificadas quanto à sua confiabilidade, considerando as fontes onde foram coletadas, permitindo assim a sua recuperação de forma mais eficiente.
Para isso é importante que, a partir dos elementos identificados nos subprocessos 1 e 2, sejam definidos os termos, linguagem e estratégias de pesquisa. Nesse subprocesso serão definidos o plano de coleta e a rede de coleta das informações necessárias, tanto internas quanto externas.
A Internet é atualmente um importante meio de coleta, pois disponibiliza um grande estoque de informações e um conjunto de ferramentas que podem ser empregadas tanto por empresas como por setores, mas também precisam ser compreendidas as características dessas informações para determinada cadeia produtiva ou ramo de atividade, incluindo a interatividade e facilidade de uso, levando-se em conta as características peculiares do público a que se destinam.
Além disso, os responsáveis devem buscar uma estruturação em redes de informações, envolvendo outros atores no processo como universidades, associações, entidades privadas e de governo para gestão de informações de caráter mais geral referente ao seu ambiente interno e externo (a chamada Rede de Especialistas).
Organização e Armazenamento
Antes da utilização das informações coletadas, é importante organizá-las segundo terminologia pertinente. Tanto as fontes quanto as informações coletadas devem ser classificadas quanto à sua confiabilidade. Dessa forma, a recuperação de informações que já tenham sido tratadas se dará de maneira mais eficiente. Essa tarefa poderá ser auxiliada com o uso de tecnologias de informação por meio de software especializado.
O desenvolvimento de uma solução tecnológica para apoiar o Sistema de Inteligência Competitiva deve contemplar essa questão de armazenamento, pois serão criadas bases de informações para serem acessadas pelas Micro e Pequenas Empresas. As informações serão armazenadas de forma organizada segundo classificação elaborada junto com as Micro e Pequenas Empresas para que correspondam aos seus modelos mentais de buscas.
Subprocesso 4 – Análise de informações
Esse subprocesso trata da confecção dos produtos de inteligência analisando as informações que foram coletadas e armazenadas anteriormente. Ou seja, nesse ponto o analista transforma as informações coletadas em uma avaliação significativa, completa e confiável.
A análise é um resumo ou síntese em que são apresentadas conclusões e recomendações sobre o assunto que está sendo pesquisado e que denominamos produto de inteligência. É o subprocesso crítico para a criação da inteligência, pois requer analistas com habilidades e conhecimentos específicos sobre o assunto pesquisado.
A criação de uma rede de especialistas que deverão apoiar os analistas de Inteligência Competitiva na realização das análises de informações utilizadas na confecção dos produtos de inteligência é importante. Essa rede deverá contar com profissionais, internos e/ou externos, que possuam conhecimentos específicos sobre o negócio e mercados relacionados ao setor. Essa rede deverá ser continuamente articulada e coordenada pelo Gerente do Sistema, mas demandada pelos Analistas de Inteligência.
Subprocesso 5 – Disseminação dos produtos de inteligência
Esse subprocesso envolve a entrega da informação analisada, ou seja, o produto de inteligência, em um formato coerente, claro, objetivo e convincente. A entrega poderá ser feita de forma presencial, por meio da solução tecnológica desenvolvida ou outro canal identificado como mais adequado. Essa decisão será tomada pelos atores envolvidos.
A solução tecnológica a ser desenvolvida possibilitará a disponibilização dos produtos gerados na Internet facilitando o acesso dos interessados. No caso do interessado não possuir ambiente no local que possibilite o acesso à Internet, o produto deverá ser enviado aos usuários finais de acordo com a forma e periodicidade definidas.
Definição e breve descrição dos produtos de inteligência
Produtos de inteligência são análises, com recomendações de ações, feitas a partir de informações coletadas para responder aos Tópicos Relevantes identificados. Nesse sentido e considerando o exposto anteriormente, apresentamos alguns exemplos de produtos que podem ser desenvolvidos:
• Sumários Executivos – análises e considerações sobre as implicações para o negócio, gerados principalmente a partir das fontes secundárias, confrontando as informações com os objetivos/metas estabelecidos para o setor. O produto, com a análise, é apresentado de forma sucinta e não como um artigo, indicando os diversos caminhos que podem ser seguidos pelo usuário final.
• Alertas – análises rápidas e breves sobre uma questão atual e relevante para o setor. Essa questão não consta da árvore de inteligência definida no subprocesso 1 porque foi identificada com externalidades oriundas do ambiente de negócios de cada setor. Por exemplo: uma mudança inesperada na taxa de dólar; uma mudança inesperada na legislação, etc., que possam impactar a atuação dos empresários de micro e pequenas empresas. São produtos curtos e com foco bem definido para decisões rápidas. Esse produto pode ser enviado por e-mail ou colocado numa área acessada pela solução tecnológica. O importante é que seja garantido o acesso à informação.
• Relatórios Analíticos – análises profundas de um tópico. Por exemplo: tecnologia, novos produtos, etc.
• Projeções estratégicas – projeções analíticas de tendências-chaves. São produtos mais profundos de utilização para longo prazo usando técnicas de cenários (ex: mercado emergente).
• Análises de Situação – avaliação de desenvolvimentos externos com potencial ou implicações para uso dos empresários. São produtos de tamanho e profundidade média para auxiliar tomada de decisões em curto prazo (ex: surgimento de uma nova tecnologia, surgimento de um novo entrante, etc.).
Subprocesso 6 – Avaliação dos produtos de inteligência
Esse subprocesso tem o objetivo de avaliar a eficiência do produto para o cliente de Inteligência Competitiva e quais os resultados práticos obtidos com o uso dos produtos gerados. Essa avaliação pode ser feita por meio de:
• Pesquisas pontuais sobre a satisfação dos clientes de Inteligência Competitiva com o conteúdo dos produtos recebidos;
• Avaliações econômicas (indicadores) dos resultados obtidos com decisões tomadas com base nos produtos de inteligência, tais como produtividade, redução de custos, investimentos em inovação e qualidade, etc. No caso de projetos alocados para a Gestão Estratégica Orientada para Resultados, esses indicadores devem prever também aqueles pactuados nesses projetos.
Subprocesso 7 – Avaliação do processo de inteligência
Esse subprocesso tem como objetivo avaliar a eficiência do processo desenhado sob o ponto de vista da elaboração e execução do produto de inteligência, o que implica analisar o desempenho de cada um dos subprocessos que compõem o processo de Inteligência Competitiva por meio de discussões internas no âmbito da equipe responsável.
Exemplos de indicadores:
• Número de solicitações ad hoc
• Número de atendimentos realizados
• Número de produtos entregues
• Número de clientes atendidos
• Prazo de entrega dos produtos de Inteligência Competitiva
• Tempo de elaboração dos produtos
• Acuidade das análises e previsões
A inserção da inteligência competitiva na gestão empresarial das Micro e Pequenas Empresas contribui para a formação de uma cultura de competitividade e sustentabilidade, apoiada em meios que possibilitam aos empresários estarem atentos às transformações que ocorrem no ambiente de negócios e criarem vantagens competitivas a partir do uso de informações estratégicas.
Autor
-
PhD em Administração de Empresas pela Flórida Christian University (EUA) PhD em Psicologia Clínica pela Flórida Christian University (EUA) Psicanalista e Diretora de Assessoria Geral da Sociedade de Psicanálise Transcendental. Mestre em Administração de Empresas pela USP. Especialista em Estratégias de Marketing em Turismo e Hotelaria pela USP, MBA em Gestão de Pessoas, MBA em Metodologia e Didática do Ensino Superior e Especialista em Informática Gerencial.
Todos os posts