Os cinco degraus da ruína empresarial
Tenho abordado a questão da derrocada empresarial com mais freqüência do que costumo fazer, por duas razões:
a) As consultas de empresas em sérias dificuldades têm aumentado;
b) Quando escrevo sobre um determinado assunto é comum que surjam mais perguntas.
Nesses momentos, em que a crise assola a empresa, a primeira conversa com os gestores é bastante longa e truncada.
Envolvem debates sobre o futuro, algumas abordagens sobre o presente, que é o que importa, e relatos de intranquilidade.
Ao usar esses termos me perguntaram: “Você sempre fala do futuro, este é que devemos planejar, o presente já se tornou operacional, então porque você nesse caso está com o foco nele?”
Ora, é simples, quando algo não tem futuro o que é que importa? O presente!
Uma atenção especial no presente quem sabe não abre novamente as portas do futuro?
Isso é cruel? Sim, mas porque essa situação se apresenta dessa forma?
Não responda, não precisa, coloco a seguinte situação: uma pessoa lhe diz que não tem mais crédito com os fornecedores e nem com os bancos, pois esgotou todas as linhas, e sem matéria-prima a fábrica irá parar no dia seguinte.
Como você qualifica essa situação?
Que recomendações sobre o futuro do empreendimento pode dar a ela?
Calma, não vale lhe perguntar por que não o procurou antes e por que deixou a situação chegar nesse ponto!
Tudo o que ela precisa nesse momento é que você a ajude a pensar como sair dessa situação.
Você pensa, pensa, pensa, e não vê saída.
Ah, vende a empresa!
Ok, quando? Lembre-se que a fábrica vai parar amanhã e as despesas continuam “correndo”.
Dá para sentir o tamanho do problema?
Como a conversa é entre nós e não com o gestor que está com o “pepino” ou o “abacaxi para descascar”, vá lá, faça a pergunta: “Por que deixaram a situação chegar nesse estágio?”
A lista de motivos é enorme, desde a invasão de produtos estrangeiros até as barreiras criadas pelo ego.
Estava tratando de algumas questões financeiras esta semana quando um amigo me lembrou uma frase, que ele considera sensacional, para ser usada quando nos achamos maiores que os desafios e não aceitamos e não queremos ajuda.
Temos uma pessoa nos nossos contatos, hoje felizmente bem sucedida, que já passou por enormes apertos, que nos disse certa vez: “Aprendam com os erros dos outros, até então é grátis. Pagar o preço por puro orgulho é estupidez. Digo isso porque a minha empresa “arrebentou” bem antes do que meu ego, e se não tivesse acordado teria levado esta também pro buraco.”
Evidentemente que a situação de uma empresa em crise não dá para ser avaliada numa tabelinha e nem os vários estágios são nítidos, mas dá para considerar que o processo de deterioração tem cerca de 5 degraus.
Primeiro: Orientação
Os gestores deveriam buscar orientação, os erros estão evidentes e algumas ações podem rapidamente recolocar a empresa nos eixos.
Vaidade, política, teimosia, medo das mudanças criam barreiras que impedem a incorporação e ação de “agentes externos”.
Segundo: Correção
Entramos numa fase um pouco mais delicada e a empresa começa a sentir o impacto financeiro dos problemas.
As linhas de crédito se aproximam de limites perigosos e as garantias começam exaurir.
Terceiro: Socorro
Pronto, cheques especiais esgotados. Todas as linhas tomadas.
Os gestores já não administram os negócios, a ordem é arrumar dinheiro.
A folha de pagamento começa a atrasar, os fornecedores se recusam a entregar material sem pagamento de parte dos valores pendentes, pagamentos em cartório viraram uma constante.
Quarto: Salvação
A situação ficou tão complicada que nem vendendo uma parte do patrimônio a situação mostra possibilidade de reversão.
Já especularam uma possível venda da empresa, mas uma pessoa se interessa só pela marca, outras por algumas máquinas e equipamentos, mas ninguém está disposto a comprar o problema.
As propostas são encaradas como ofensas e os atritos estão a “mil”.
A notícia já é de conhecimento geral e o valor da empresa, se é que ainda tinha algum, despencou.
Quinto: Falência
Por que não tratar a situação em uma concordata?
Quer dar uma sobrevida ao negócio? Pode colocar essa medida no estágio de salvação.
Quando o fato que levou a empresa ao processo concordatário é uma questão mercadológica e não problema de gestão costuma ser mais fácil a superação. A empresa precisa de algum tempo para ganhar fôlego, mas quando a questão é dificuldade de gestão é pouco provável que a situação se resolva.
Valores pessoais e convicções se sobrepõem a questões técnicas.
Nesses casos as pessoas decidem mais para ter razão do que para gerar resultados.
São momentos em que a procura por orientação costuma ocorrer: a crise no último degrau.
A esperança de reversão ficou lá entre o terceiro e quarto passos.
É sempre bom ter desafios profissionais, mas cá entre nós, é bem melhor quando são para superar as barreiras de crescimento.
Muitos gestores quando chegam próximos da meta e não a superam, suspiram e dizem desanimados: – O mercado ta complicado!
Complicado?
Complicado é o quinto estágio que acabamos de ver. Isso sim é complicado!
Ivan Postigo
Diretor de Gestão Empresarial
Postigo Consultoria Comunicação e Gestão
www.postigoconsultoria.com.br
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Autor
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Economista, contador, pós-graduado em controladoria pela USP. Vivência em empresas nacionais, multinacionais americanas e européia de lingotamento de aço, equipamentos siderúrgicos, retroescavadeiras e tratores agrícolas, lentes e armações de óculos, equipamentos de medição de calor, pilhas alcalinas, vestuários, material esportivo, refrigerantes, ferramentas diamantadas , cerâmicas, bebidas quentes, plásticos reciclados, hotelaria e injeção de plásticos. Executivo nas áreas fabril, administrativa/financeira, marketing e vendas.
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