Profissionais incompetentes alimentam-se de sistemas deficientes
Competência é um estado e não uma qualidade pessoal. Não nascemos sabendo e o conhecimento se torna o obsoleto, fazendo com que fiquemos desatualizados.
Não sei quantos tipos de planilhas eletrônicas aprendi a usar. O próprio mouse exigiu um pouco de treino, como também o modelo gráfico dos sistemas informatizados.
Apesar da facilidade que nos proporcionam, os caixas eletrônicos ainda precisam de incentivo para uso. Resistir a sua adesão é sujeitar-se a filas imensas. Dificilmente os bancos investirão intensivamente na melhoria dos caixas, afinal o incentivo é para uso do meio eletrônico.
Nas empresas, o estudo dos sistemas informatizados integrados – ERP – nos dará pistas extremamente importantes sobre as competências existentes.
A questão é muito simples, pois o software é resultado da soma de experiências que, ao longo que tempo, somadas, geraram aquele sistema e o aperfeiçoaram. Por que razão a exploração de seus recursos nas empresas não chega a cinquenta por cento?
É verdade que existem particularidades, mas o sistema pode ser ajustado com customizações, como o procedimento é conhecido.
Não precisamos nos ater nesse estudo aos aspectos aos quais o sistema precisa de ajuste, mas nos pontos em que este atende perfeitamente, mas deixa de ser usado e observado.
Relatórios são desconhecidos e mesmo quando emitidos e apresentados aos profissionais das áreas veremos que terão dificuldades para leitura e entendimento.
Nesse momento nos voltaremos para o ponto básico: qualificação.
Qualificação profissional é a formação do indivíduo para que possa aprimorar suas habilidades e executar funções específicas, oferecidas pelo mercado de trabalho. Integra a qualificação a atualização e a reciclagem, não apenas a formação completa. Com qualificação é que a competência é adquirida.
As empresas são extremamente carentes em procedimentos de reciclagem. Vamos encontrá-los em ambientes onde o risco é elevado, nas demais, um profissional pode passar uma vida inteira sem que qualquer trabalho nesse sentido seja feito.
Ainda que contestado, é importante refletir sobre o Princípio de Peter que diz: “Num sistema hierárquico, todo o funcionário tende a ser promovido até o seu nível de incompetência.”
Laurence Johnston Peter, antigo professor na University of Southern California e na University of British Columbia, demonstra que os funcionários começam a trabalhar nas posições hierarquicamente inferiores. Quando demonstram competência são promovidos. Esse processo segue até atinjam uma posição em que já não são mais “competentes”, e se tornem incapazes de desenvolver as novas tarefas.
Como a “despromoção” não é possível, as pessoas permanecem nessas posições, em prejuízo da organização. Peter denomina esse estado de “nível de incompetência” . É o graú a partir do qual as pessoas não têm competência para a posição que ocupam.
Não podemos nos prender apenas à evolução da carreira, mas temos que levar em conta a evolução tecnológica e a adaptacão do profissional a ela.
Em algumas empresas, a implantação de um novo ERP é traumática e as perdas são maiores do que os ganhos, ainda que o software seja sensivelmente superior.
Para espanto de muitos, apesar de todo suporte informatizado, ainda encontramos contadores com suas contabilidades em caderninhos nas gavetas. O mesmo ocorre com controles de estoques.
Seriam os sistemas deficientes? Difícil saber, provavelmente não, mas não o usam de forma adequada.
Os cadernos são os locais onde exercitam suas competências e se sentem mais seguros.
Podemos jogá-los fora? Sim, mas terá que fazê-lo diversas vezes, eles voltarão como bumerangues.
ERP bem implantados e o acompanhamento de seu uso criam processos de ancoragem, impedindo a multiplicação de deficiências.
Instalado o descontrole, os gestores terão dificuldades para identificar se o sistema é ou está ruim porque os colaboradores estão incompetentes ou estes estão incompetentes porque o sistema é ruim.
Isso é razão suficiente para que as empresas não descuidem de suas políticas de avaliação de desempenho.
Não falta destas, não há detectar falhas e corrigi-las, enquanto isso profissionais incompetentes alimentam-se de sistemas deficientes.
Ivan Postigo
Diretor de Gestão Empresarial
www.postigoconsultoria.com.br
Autor
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Economista, contador, pós-graduado em controladoria pela USP. Vivência em empresas nacionais, multinacionais americanas e européia de lingotamento de aço, equipamentos siderúrgicos, retroescavadeiras e tratores agrícolas, lentes e armações de óculos, equipamentos de medição de calor, pilhas alcalinas, vestuários, material esportivo, refrigerantes, ferramentas diamantadas , cerâmicas, bebidas quentes, plásticos reciclados, hotelaria e injeção de plásticos. Executivo nas áreas fabril, administrativa/financeira, marketing e vendas.
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